Textos Mariana
O desemprego e a autoestima do
desempregado
Estamos no primeiro semestre de 2019 e é
possível constatar que tivemos conquistas em diferentes setores como: medicina
(vacina e avanço nos estudos para cura de doenças), educação (reconhecimento de
uma professora em São Paulo como uma das melhores do mundo), mulheres
conquistando mais espaço na sociedade e no mercado de trabalho e avanço na
tecnologia. Mas também tivemos muito retrocesso quanto ao crescimento do
país. O desemprego é o nosso destaque.
Segundo o
IBGE (site: https://www.ibge.gov.br/)
a
taxa de desemprego até fevereiro de 2019 ficou em (fechou em) 12,4%,
o que representa a entrada de 892 mil pessoas na situação de desemprego no Brasil, totalizando
13,1 milhões de trabalhadores nessa condição.
Recentemente,
no centro da cidade São Paulo, aproximadamente 30 empresas reuniram-se e anunciaram
a abertura de 6 mil postos de trabalho para posições diversas. Essa ação, fez com que cerca de 15 mil pessoas
formassem uma extensa fila para tentar uma oportunidade de trabalho em uma
dessas empresas. (isto foi para uma das empresas ou para as 30?
Ficou confuso).
O desemprego
além de atingir a economia do país, pois a circulação de dinheiro reduz o
processo de compra e venda, atinge também a autoestima do desempregado.
O ser humano
tem por natureza produzir e ver seus resultados, transformar o mundo e a si
mesmo desde que seja a produção de algo em que há a identificação pessoal e não
por escravidão.
Com o passar
do tempo o trabalho tornou-se fonte de renda, de sustento da família, de lazer,
e o empregado que não se preocupava com a palavra “demissão”, pois sabia que
uma vez empregado à probabilidade de ser desligado era muito pequena, passou a
temer essa possibilidade. Ser admitido hoje por uma empresa é uma luta diária
para tentar garantir o sustento da família, a renda mensal e principalmente manter-se no emprego por um
longo tempo.
A palavra
“demissão” passou a ser a sombra que assusta milhares de brasileiros e o
emprego dos sonhos, por vezes, fica nos sonhos. A realidade que podemos ver nos
jornais e canais de comunicação é que há muitos desempregados buscando garantir
o alimento diário na mesa de casa, mesmo que para isso seja necessário
trabalhar em uma função completamente diferente que almejou e/ou estudou um
dia. Do outro lado, temos empresas escolhendo o candidato “perfeito”, e as
opções são muitas.
O impacto do
desemprego na autoestima do desempregado tem provocado diversos sentimentos
negativos, como: crise de identidade, insegurança, sentimento de inutilidade,
etc, uma verdadeira desvalorização de si mesmo, pois uma vez que o individuo
que trabalha é considerado “do bem”, “trabalhador”, então quem não trabalha é
“preguiçoso”, “desocupado”.
Não ser
reconhecido ou não ter a oportunidade para tal é questionar-se quanto ao seu
papel de cidadão na sociedade. Dessa forma, percebemos que o trabalho deixou de
ser somente nossa produção para também promover nosso status. Podemos notar que nosso nome não é mais suficiente para
sermos aceitos como cidadãos. Somos constantemente questionados - “fulano de
onde?”, “você trabalha com o que?”, e nossa identidade passa então a ser
baseada em nossas ocupações, em nosso trabalho. Tendo em vista esses
questionamentos, o individuo em situação de desemprego começa a excluir-se da
vida social, pois as limitações financeiras o privam e os sentimentos negativos
ganham força.
Temos percebido
um aumento considerável quanto ao número de pessoas depressivas após um
processo demissional, não importando variáveis como crença, cor, sexo, classe
social ou o currículo da pessoa; o desemprego pode atingir a qualquer um em
qualquer momento.
Buscar apoio familiar, terapia, esportes,
novas alternativas de renda, são alguns itens que podem ajudar muito o sujeito
a encontrar forças e não desistir de si mesmo, de sua autovalorização e
recomeçar o novo.
Celular, a nova droga da sociedade
Século XXI - descobertas
espaciais, históricas, científicas, médicas e sociais. Muitas mudanças ao longo
dos anos, muitas conquistas tecnológicas que nos permitem adquirir
conhecimentos e solucionar diversos assuntos sem sair de nossas casas. Apenas
pela tela de um aparelho de celular conseguimos ver e conversar com uma pessoa
que está do outro lado do mundo. Entretanto, o instrumento que serve para nos aproximar
de quem está longe, também tem servido para nos distanciar de quem está perto.
O
uso do aparelho celular tem crescido de forma excessiva dentro de nossas casas
e atingido a todos, independente da idade.
O mercado
brasileiro de smartphones reagiu e fechou 2017 com o segundo melhor desempenho
da história: 47,7 milhões de aparelhos vendidos, um crescimento de 9,7% em
relação a 2016 e 6,8 milhões a menos que em 2014, o melhor ano até agora para o
mercado, conforme informado no jornal Valor
(https://www.valor.com.br/empresas/5409615/mercado-de-smartphones-volta-crescer-no-brasil-apos-2-anos-de-queda).
O uso do celular passou a ser uma necessidade para as pessoas,
já que não é mais preciso memorizar contatos telefônicos, procurar endereços,
ter máquina fotográfica, sair para comprar algo, dentre tantas coisas mais que
o aparelho telefônico inteligente permite ao usuário acessar e fazer, além da
simples função de fazer ou receber uma ligação de qualquer lugar.
Com tantos aplicativos sobre os mais variados assuntos, damos
destaque às redes sociais, o lugar onde todos são perfeitos, com vida alegre e
feliz. Lições de moral sempre postadas, além de tutorias de como viver,
conviver, cozinhar, maquiar, pentear, etc. A dedicação de tempo buscando a pose
perfeita para a foto a ser postada é maior do que o tempo dedicado conversando
com o familiar, que por muitas vezes está sentado ao lado, assim como a
indisposição em ouvir, ajudar e/ou reconhecer a pessoa ao lado, mas fazer tudo
isso a quem aparece na “linha do tempo” da rede de amigos, independentemente de
conhecer ou não o “amigo”.
O filho cresce, o show acontece, a festa termina, o
encontro acaba, o familiar ou amigo se vai e por vezes não há registro da
emoção, do olhar, etc. da pessoa que lá estava, mas está tudo registrado de
alguma forma no celular, inclusive sendo rapidamente postado nas redes sociais.
Mas será que vivo tudo aquilo que posto? Por que preciso
tanto mostrar ao outro o que faço, o que como, onde estou ou com quem estou? Na
busca de ostentar os melhores aparelhos telefônicos, curtidas, comentários,
visualizações etc, o contato pessoal com
quem está bem à frente está se perdendo. O celular, e tudo o que ele oferece, acaba tornando-se uma fuga da realidade, e o
indivíduo não se torna disponível para assumir seu papel seja ele de pai,
filho, irmão, vizinho, amigo, namorado, marido, funcionário, entre outros, de
forma efetiva. Vivendo o virtual não é possível focar, visualizar, verbalizar e
sentir o real. E viver o real, estar presente, provoca riso, dor, choro,
frustração e muito mais que promove o crescimento como ser humano.
É preciso muita atenção ao tempo que o individuo dedica
para o uso do celular, pois assim como outras drogas o uso excessivo dessa
tecnologia pode causar dependência ou até mesmo danos emocionais profundos.
Mariana de Cássia Rocha Marchi - Psicanalista
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